Os hauçás, haussás ou
haúsas, também conhecidos pela grafia inglesa hausa, são um povo do Sahel
africano ocidental que se encontra principalmente no norte da Nigéria e no sudeste
do Níger. A língua dominante é o haussa. O povo nativo desse local teve uma
mescla de uma grande onda migratória vinda do norte e do leste. A tradição oral
refere-se à cidade-mãe Daura, que teria dado origem às “sete cidades”
históricas: Kano, Zaria, Gobir, Katsina, Rano, Biram e Daura. A organização
política administrativa se dava por pequenas comunidades locais que se formavam
por grupos de famílias dirigidos por um chefe, sendo que a economia se baseava
na agricultura e no artesanato seguido do comércio. A religião é na sua maioria
o islamismo. Muitos Hauçás vieram para o Brasil através do tráfico negreiro.
Porém, muitos ainda permanecem em pequenos vilarejos trabalhando com a
agricultura e a pecuária.
Localização da nação Haussa
Disponível em:<http://www.blackpast.org/gah/hausa-city-states#sthash.72blV7Ph.dpuf.>. Acesso em: 11 abr. 2014.
O
território
O povo Haussa habitava
a área que ia desde os montes Air (norte), até o planalto de Jos (sul), da
fronteira do antigo reino de Bornu (leste), até o vale do Níger (oeste). Desde
tempos muito antigos, era a única língua indígena conhecida, o território era
chamado de Kasar hausa, que quer
dizer, território de língua haussa. (ADAMU, 2010, p. 299)
Segundo Alberto da
Costa e Silva (2011, p. 457), por volta do século XI, já havia várias
comunidadesque habitavam esse território. Os Haussas habitavam o Sudão Central principalmente,
o norte da Nigéria e sudeste do Níger. Eram grupos que compartilhavam da mesma
língua e mantinham contatos com outros povos, alguns destes, fornecendo
elementos que se tornaram parte da civilização haussa.
De acordo com Guy
Nicolas, “por falar a mesma língua, observar os mesmos costumes, obedecer às
mesmas instituições políticas, os Haussa formam um dos grupos étnicos mais
importantes da África. Atraídos por sua cultura, muitos povos vizinhos
abandonaram a própria língua e seus costumes para fazer parte dos Haussa”. (Apud
ADAMU, 2010, p. 300)
Abaixo temos a
representação da localização desse território.(ADAMU, 2010, p. 323)
“A lenda popular sobre a origem dos Haussa evoca a
partida do príncipe Bayajida de Bagdá para oeste, em direção ao Kanem-Bornu.
Ali, o mai(rei) deu-lhe a mão da
filha em casamento, mas privou-o da escolta. Com medo do mai, Bayajida fugiu novamente para oeste, chegando, algum tempo
mais tarde, a uma cidade cujos habitantes eram impedidos de alcançar a água por
uma serpente chamada sarki(chefe).
Com sua espada, o príncipe matou a serpente; como recompensa, Daura, a rainha
local, esposou-o e também deu-lhe uma concubina gwari. Do casamento com Daura,
nasceu-lhe um filho chamado Bawogari; a concubina deu-lhe outro menino, que foi
denominado Karbogari ou Karafgari (conquistador de cidades). A cidade passou a
se chamar Daura. Bawogari, que sucedeu o pai, teve seis filhos, três pares de
gêmeos, que se tornaram chefes de Kano e Daura, Gobir e Zazzau (Zegzeg ou
Zaria), Katsina e Rano; juntamente com Biram, governado pelo filho que Bayajida
teve com a princesa de Bornu, estes Estados formaram os hawsabakwai, os sete (Estados) haussa. Os filhos de Karbogari
também fundaram sete Estados: Kebbi, Zamfara, Gwari, Jukun (Kwararafa ou
Kororofa), Yoruba, Nupe e Yawuri, chamados de banza bakwai, os sete bastardos ou os sete imprestáveis.” (ADAMU,
2010, p. 303-304)
Estrutura político-administrativa
Os primeiros haussas viviam em pequenas aldeias
ou comunidades onde cada linhagem tinha seu chefe. Alguns poderiam desfrutar de
certa superioridade aos demais por considerarem-se descendentes do fundador.
Assim alguns foram concentrando mais poder que outros. Essas aldeias foram se
expandindo, recebendo e fixando-se novas pessoas, com isso, foi se aumentando o
poder e algum chefe ia assumindo um caráter de príncipe enquanto os demais
chefes da família iam constituindo uma nobreza.(SILVA, 2011, p. 458-459)
Umas aldeias cresciam mais do que outras, foram
tornando-se maiores e sobrepondo-se às menores. Uma das características da
ascensão de uma aldeia era a construção de murros para se proteger de ataques.
As aldeias tinham um chefe, as vilas, maiores, tinham o chefe da vila. Havia
também o chefe do território. O rei tinha poder absoluto e caráter sagrado,
estando à frente do país. Apesar de
haverem diferenças regionais, a organização política seguiu um padrão
semelhante, “[...] o sistema administrativo surgiu nos Estados haussa, desde o
século XIV, testemunha a influência do Kanem-Bornu, de onde vieram os modelos
de muitas instituições e funções [...].” (ADAMU, 2010, p. 329)
Com o crescimento das cidades apareceram
Estados centralizados como centros do poder político, cada um com suas
características, e sua importância variou com o tempo. Podemos citar alguns
desses Estados como Kano, Katsina, Rano, Gobir, e outros.
De
acordo com a lenda Kano e Rano tornaram-se sarakunanbabba
(os reis do índigo), pois sua principal ocupação era a produção e tintura de
tecidos; Katsina e Daura foram denominadas sarakunankasuwa
(os reis do mercado), pois todo comércio concentrava-se nestas cidades. Gobir
era sarkinyaki(o rei da guerra), e
sua função era a de defender as outras cidades contra os inimigos do exterior;
Zazzau (Zegzeg ou Zaria) tornou-se sarkinbayi
(o rei dos escravos), pois fornecia mão de obra servil às outras cidades haussa.
(ADAMU, 2010, p. 304)
A
vida econômica dos Haussas
Segundo Adamu, os
Haussas se desenvolveram economicamente devido as suas jazidas de minério de
ferro que eram ricas e bem distribuídas. A qualidade do seu solo foi outro
fator determinante, pois na sua totalidade era rica e fértil. Dessa forma, a
agricultura era a atividade econômica mais importante dos Estados Haussas (2010,
p.331).
O território era
bastante povoado, porém a população não se concentrava demograficamente em uma
região do país. A localização geográfica do território, entre o Sahel e o Saara
ao norte, a savana e a floresta tropical ao sul; podia, desta forma, ser
intermédio de mercadorias entre estas regiões. Devido a esses fatores, o
território haussa logo desenvolveu o artesanato e o comércio de longa
distância.
A agricultura era o
centro da vida econômica do país. A terra era utilizada sobre a supervisão de
um chefe da comunidade (aldeia, vila, cidade). Nunca era vendida, e seu
usufruto cabia aos que a cultivavam. O agricultor (talaka) era dirigido em suas atividades por um chefe de culturas (sarkin poma), responsável pela
observação rigorosa do início da estação das chuvas e pelos sacrifícios a serem
feitos aos deuses locais, para que se assegurassem boas colheitas (ADAMU, 2010,
p.332).
Com o tempo foram existindo três tipos de
fazendas as gandumsarkin(campos do
rei), caracterizadas por grandes extensões; as gandumgide(campos de família), chamados geralmente de gona(nome genérico para todos os
campos), e finalmente a gayaunaougayamma(pequeno lote de terra
pertencente a um indivÍduo) (ADAMU, 2010, p.332).
No artesanato graças a
divisão do trabalho e a especialização, desde bem antes do século XIV
alcançou-se um nível de produção relativamente alto, sendo, a indústria têxtil
a ocupar o primeiro lugar. O trabalho em metal era também um artesanato muito
antigo. Além desses, temos também a cerâmica que fornecia recipientes
necessários para a conservação de líquidos e cereais. Grande parte das
atividades artesanais eram controladas pelos guildas, que tinham um chefe
escolhido pelo rei com o objetivo de arrecadar tributos. Porém o local
preferido para os intercâmbios comerciais era o mercado, aonde se vendia de
tudo.
As principais unidades
monetárias eram feitas de algodão. No século XV quando se inicia a
transformação da economia do território, os haussas começaram a desenvolver
seus negócios e assumiram algumas rotas, principalmente as que levaram ao sul.
O comercio fluía em várias direções, aproveitando a localização geográfica do território
e a diversidade de produtos carentes em outras regiões. Como aponta Adamu, as
principais mercadorias do comércio haussa podem ser classificadas de acordo com
o seu local de origem: existiam produtos locais-artigos de algodão, couro e
artigo de couro, produtos agrícolas (principalmente o milhete-destinado aos
oásis do Saara), almíscar de algalha, penas de avestruz e provavelmente
borracha; produtos da África setentrional (e, em parte, da Europa)-objetos de
metal, armas, cavalos, pérolas, artigos de vidro e vestimentas de luxo;
produtos do Saara – barras de estanho, das minas de Takdda (Azeline), sal e
natro de bulma e de outras minas de sal do Saara. Os principais centros do comércio
de sal eram Agadez e Gobir; produtos do sul o principal produto importado eram
os escravos vítimas de incursões ou tributos pagos pelos países vizinhos.
Exerciam vários papéis, sendo usados como moeda ou mercadoria, domésticos,
soldados, guardas, mão de obra agrícola e artesanal. O segundo produto
comercializado era a noz de cola. (ADAMU, 2010, p.335-336)
A fé e
religiosidade dos Haussas
As crenças religiosas
dos haussas de então, deviam ser diferentes daquelas que hoje professam as
minorias de grupos que se renderam ao islamismo. Como os outros povos
africanos, acreditavam num deus supremo, distante do mundo e dos homens,
chamado Ubanjiji, e num grande número de espíritos, denominados iscóquis, que determinavam cada aspecto
da vida e conduziam o destino dos seres.
Todos os rituais foram
se extinguindo e muitos mitos foram incorporados ao islamismo.Existem diversas
explicação para a difusão do islamismo no território haussa.Uns afirmam que
foram os mercadores e missionários mandigas que introduziram na Hauçalândia o
islamismo, ficando num primeiro momento restrito a aristocracia. Os artesãos e
os camponeses continuaram praticando os cultos africanos, mais ligados ao
cultivo da terra, ainda que mesclados com o islamismo.
Segundo a tradição, o
Islã foi trazido para o território por Hausa MuhommadAl-Maghili, um clérigo
islâmico, professor e missionário, chegou de Bornu no final do século XV. A
islamização inicial foi muito lenta e gradual, principalmente através de
profetas, peregrinos e comerciantes. Durante séculos eles viveram o Islã e
as práticas religiosas tradicionais. No entanto, a partir do início do século
XIX, sob pressão Fulani, acelerou-se o processo de islamização desaparecendo à
prática das crenças antigas.
Outra tese afirma que o movimento islâmico foi
propagado por Osman Dan Fódio, sendo um estudioso fervoroso do islã, pregava a
volta do verdadeiro islamismo. Essa doutrina permitiu ao movimento renovador
consolidar a liderança sobre as massas camponesas e artesãs angustiadas com as
possibilidades de ser reduzidas à escravidão. Este movimento acabou em 1811,
com a completa vitória de suas tropas. O seu expansionismo não se limitou aos territórios
haussas.
Outra explicação foi
encontrada na Crônica de Kano, que
segundo a qual o Islã teria sido introduzido em meados dos séculos XIV pelos Jula, vindos do Mali, durante o reinado de Kano. Apesar de se tratar do primeiro
testemunho escrito da religião muçulmana no território haussa, é mais do que
provável que a sua difusão já se tivesse iniciado em época bem anterior, pois
era praticada no Kanem – Bornu desde
o século XI.
Independente do fato de
se saber qual das datas, é certo que o Islã foi introduzido bem antes no
território haussa, pelo Kanem – Bornu ou por Osman Dan Fódio. Não se pode
descartar a possibilidade de negociantes muçulmanos provenientes do oeste (
Mali e Songhai) terem se difundido entre os comerciantes e parte da elite
dirigente haussa, antes da chegada dos Wangarawa – eruditos e missionários
muçulmanos imigrantes -, que mais tarde contribuíram para instaurar uma
tradição islâmica mais forte e extensa que
motivou a propagação de novas ideias políticas, sociais, culturais e o
desenvolvimento e a capacidade de ler e escrever na Hauçalândia. Estes fatores
contribuíram, por sua vez para melhorar a administração do Estado, e também
para aperfeiçoar várias práticas comerciais.
Os haussas
islamizaram-se e tornaram-se zelosos defensores da nova fé. A conversão
religiosa influenciou e organizou a política e economia, sendo importante para
construção de novos estados.
A cultura Hauçá é
fortemente ligada ao islã o que torna difícil a penetração do Evangelho.
bom resumo ... está estupendo
ResponderExcluirrealmente
ExcluirOs haussas sobreviver até hoje nos hábitos e costumes do povo brasileiro.
ResponderExcluirNos trajes das baianas do acarajé aos filhos de Gandhy, na oferenda de Oyá o"acarajé" se torna profano falafel feito com grão de bico ou feijão fradinho mostrando que alem de ser sagrado servia de alimento para o seu ramadan: jejum islâmico.
Um povo que sobe se camuflar no sincretismo de varias outras religiões e etnias africanas dentro de uma só, "o candomblé".
O sincretismo religioso se concretiza dentro e fora do candomblé através de varias nações africanas na força de resistência a religião católica.
Atenciosamente,
Baiana do Palácio de Cristal
Os haussas sobreviver até hoje nos hábitos e costumes do povo brasileiro.
ResponderExcluirNos trajes das baianas do acarajé aos filhos de Gandhy, na oferenda de Oyá o"acarajé" se torna profano falafel feito com grão de bico ou feijão fradinho mostrando que alem de ser sagrado servia de alimento para o seu ramadan: jejum islâmico.
Um povo que sobe se camuflar no sincretismo de varias outras religiões e etnias africanas dentro de uma só, "o candomblé".
O sincretismo religioso se concretiza dentro e fora do candomblé através de varias nações africanas na força de resistência a religião católica.
Atenciosamente,
Baiana do Palácio de Cristal
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPequeno resumo meio grandinho hein?
ResponderExcluirquer mesmo eh reclamar ne
ExcluirGostei bastante foi útil para mim e para os meus estudos durante as minhas pesquisas!
ResponderExcluirNice
ResponderExcluirExcelente resumo ,serve de trabalho para historia antiga da Africa parabens.
ResponderExcluirQuem foi o fundador ? visto que ele casou com Doura e tiveram 6 filhos ( Kano, Gobir, Katsiana, Zaria, Biram e Raio)
ResponderExcluirBom texto
ResponderExcluirTexto interessante, mas não é possível complementar, porque não tem bibliografia. Só tem as citações dos autores.
ResponderExcluirTexto interessante muito bom gostei bastante 😍❣❤❤❤😍👍👍👍
ResponderExcluirVocê possui os textos de referência? Por favor. Gostei muito
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirSinceramente, gostei muito e aprendi bastante também.
ResponderExcluirQuais os principais grupos etnicos dos Haussas??
ResponderExcluirMuito bom
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